10 de maio de 2012

Omnos

    Omnos

    A história que agora lhes contarei é uma antiga fábula que agora estou a renovar. Já ouviram falar em uma garotinha, que certa vez adentrara na Floresta Negra e nunca mais voltara? Creio eu que sim, pois é uma das primeiras histórias que seus ouvidos escutam. Ela, assim como a maioria de seu tipo, é contada somente oralmente, e raramente narrada como aqui faço. E se por algum acaso nunca a ouviram, deixe-me apresentá-la a vós.
    Sim, é este velho conto-de-fadas que contar-lhes-ei agora, mas em uma outra versão, em outro quando, em outro onde e, possivelmente, em outra versão de nosso próprio mundo.

    Linda era ela, cabelos negros e curtos, cujo quando a luz refletia fazia parecer que haviam verdadeiras estrelas nele, olhos castanhos, e uma longa capa tão vermelha quanto seus lábios que a tantos encantavam. Ela nutria uma imensa  paixão pela natureza, pelo canto dos pássaros e pelo perfume das flores, que dentre estas últimas, as rosas vermelhas eram suas favoritas. Mas agora que já vos introduzi a ela, comecemos a história.

    Certo dia, certa noite, ela entrara na floresta a procura de rosas, caminhara solitária, sua capa vermelha iluminada pela luz da lua, seus cabelos - que ondulavam como ondas num mar - soltos. A jovem era sem dúvida a mais bela das damas. Distraída observando a beleza das rosas - tão belas quanto ela - não notara um jovem alto e branco se aproximar. “Linda jovem, o que faz nesta floresta tão tarde e tão longe de outras pessoas? O que faz sozinha nesta floresta onde somente a luz do luar ousa adentrar?” perguntara ele. Ela se assustara ao ouvir seu uivar, que aos seus ouvidos, era o mais belo cantar. Ela o fitara, ele era o mais lindo príncipe a seus olhos, usava uma barba rala e tinha cabelos negros e longos. “Colho flores nesta floresta, por que não se junta a mim e as colhe também garoto bonito?” perguntara ela, estupefata com sua nova companhia. Esperara do fundo do coração que dissesse sim.

    “Lamento-lhe dizer linda donzela, mas aqui onde a luz não ousa penetrar eu caço” respondeu-lhe o jovem. “Pode dizer-me teu nome caçador?”, perguntara decepcionada com sua fria resposta, embora nunca tenha realmente desistido de sua tola esperança. “Omnos”. Mas que peculiar nome aquele, embora coerente com a pessoa a quem ele nomeava. ‘Omnos’ signifcava medo. “Estranho nome para um homem como tu” disse ela assustada com o nome de seu amado, e com razão.

    “Eu não sou um homem, Garota-Da-Capa-Vermelha, eu sou um Lobo-Mau”. Mas que grande choque fora para ela, que se apaixonara por seu predador. Que trágico é o amor, que sádico é o destino. Este primeiro tão belo, mas causa tanta tristeza há tanto tempo, e ela era só mais uma. Omnos poderia ser um lobo, mas ainda sim poderia amá-la por mais incoerente que fosse, por mais incoerente que era. Então, disse-lhe em uma última tentativa de conquistá-lo: “Então vamos jogar um jogo, venha comigo Lobo-Mau, cantemos músicas, dancemos valsas”, apesar de ser tão triste o amor dela por ele, era igualmente inocente. “Eu não jogo jogos de garotas, jogo somente os dos lobos, praticados no fundo da floresta” - respondeu-lhe com frieza (e com talvez certo amargor). “Faça o que seu selvagem coração desejar, mas por favor, rogo-lhe, fique comigo”. E essas foram as palavras que podem - não é certo? - terem deixado Omnos em tamanho dilema, mas não era de sua natureza questionar seus instintos, e ele não poderia resistir a si mesmo não importava o quanto tentasse. Então, ele a levou para o coração da floresta onde morava; antes de entrar na morada de seu amor, ela olhara uma última vez para a linda lua. E lá, fizeram amor, e lá, ele a devorou sob a tênue luz da fogueira que ali os enquentava. 

                                                                                                                            Enzo Merolli

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